Os brasileiros gostam de estar no topo. Nós somos muito engajados no que diz respeito
a entretenimento e sexo, sendo assim, não poderia ser diferente com a pornografia. É como dizem por aí “os brasileiros estão em todos os lugares”. Estamos marcando presença também na questão do desejo por transexuais.
O consumo de pornografia transexual por brasileiros
De acordo com pesquisas do PornHub sobre o consumo de pornografia do brasileiro, somos o país que mais busca por transexuais em sites de conteúdo adulto. O termo gringo “shemale”, usado para pesquisar vídeos com pessoas trans, é o quinto tópico mais procurado pelos brasileiros.
Dessa forma, o levantamento revelou que o brasileiro é 89% mais propenso a visitar a categoria “transexuais” em comparação com o consumo de outros países do mundo no RedTube. Sendo assim, em um ranking mundial, o Brasil ocupa o nono lugar com relação às buscas por trans.
E, se analisarmos as variações do termo de acordo com os regionalismos, as palavras “travesti” e “brazilian shemale” estão entre as trinta mais pesquisadas pelos brasileiros.
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Pesquisa antropológica sobre o desejo por transexuais
O antropólogo americano Don Kulic realizou um estudo sobre travestis e seus potenciais clientes. Em seu livro Travestis: Prostituição, Sexo, Gênero e Cultura no Brasil, o pesquisador relatou suas experiências e conclusões depois de passar um ano em Salvador vivendo com travestis. Ele as acompanhava na rotina de trabalho e buscava traçar um perfil da clientela, tarefa esta que ele não conseguiu concretizar. “Essa é uma grande incógnita. Embora acompanhasse os travestis todas as noites, não consegui distinguir um cliente típico”, diz.
Mas, apesar de não ter um perfil concreto, Kulic conseguiu mapear quase que rigorosamente os pedidos e exigências dos fregueses de travestis. Por volta de um mês, o pesquisador pediu que os profissionais registrassem o tipo de serviço prestado nas ruas. Com as análises de 138 programas, Kulic constatou que em 52% dos casos os clientes queriam sodomizar, 19% queriam sexo oral, 9% pagaram para serem sodomizados, 18% queria fazer “troca-troca” (alternância entre os parceiros para a penetração anal) e 2% queriam ser masturbados.
“Não é insignificante que 27% dos homens nessa amostragem quisessem ser penetrados por travestis. Mas esses homens não são maioria, como os travestis geralmente afirmam.” – Kulic
O desejo por transexuais
Ao contrário do que se pensa, os fetiches não são meras fantasias. Os desejos e atrações estão intimamente relacionados aos sentidos e sensações físicas que podem ser reflexo de fatores da infância e outras memórias do subconsciente. Segundo a doutora em neurociência Débora Amado em entrevista para o Vice, esses fetiches desenvolvidos são atos que promovem a liberação de hormônios sexuais. Além disso, são capazes de aumentar o libido e as taxas de adrenalina no corpo.
Assim, essa adrenalina liberada é o que diferencia um orgasmo normal de um orgasmo relacionado a um fetiche. Além disso, com a liberação de endorfina e oxitocina, o prazer é sentido de uma maneira muito mais profunda e, de certa forma, traz à tona os desejos mais intrínsecos ao inconsciente.
Agora, focando no aspecto da grande busca por transexuais, há uma tentativa de explicação para a popularidade desse desejo. De acordo com o site Vice, normalmente, as coisas que são proibidas ou tidas como tabus provocam um aumento de adrenalina que expandem as perspectivas do que as pessoas sentem ou veem.
Os tabus e os desejos
Dessa forma, podemos analisar o desejo por transexuais como um reflexo das proibições e pressões sociais relacionadas à sexualidade e identidade de gênero. O que nos levanta um paradoxo! Isso porque ao mesmo tempo que o Brasil é o primeiro no consumo de conteúdo trans, é também o país que mais mata transexuais no mundo. Tendo isso em vista, temos a expressão dos preconceitos arraigados na sociedade que se moldam no comportamento sexual dos indivíduos.
Geralmente, as pessoas que se relacionam com mulheres trans são homens héteros. Por conta de ser considerado tabu, as vias pagas são a saída encontrada para saciar os desejos sexuais reprimidos. Além de ser algo escondido, as mulheres trans, muitas vezes por falta de oportunidade em empregos formais (situação motivada por preconceito), veem a prostituição como única opção para sustento próprio.
Voltando a questão do desejo, quando esses não são concretizados por conta dos tabus ou negação do contexto social, a pessoa pode desenvolver disfunções sexuais. A sexóloga e psicóloga Erika Oliveira , que deu entrevista para a Vice, afirma que o inconsciente traz a disfunção como mecanismo de defesa para evitar mais frustrações. Ela revelou também que a maioria de seus pacientes é homem e heterossexual.
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Fetichização e objetificação
O desejo por transexuais, portanto, trata-se de uma contradição não tão incongruente assim. Por um moralismo, conservadorismo e preconceito, transexuais são excluídos socialmente e ao mesmo tempo são desejados por muitos. Muitas vezes, esses que se relacionam com trans são os mesmos que os agridem nas ruas. O reflexo do tabu é o desejo sexual. E, nesses casos, ocorre a objetificação e a fetichização dessa parcela populacional.
Temos que ter em mente que as vidas de pessoas trans importam! Essas pessoas não são mera diversão ou objetos sexuais usados para realizar fantasias. Corpos trans sentem, corpos trans tem sentimentos e desejos.
Diante disso, devemos ressaltar que não há problema nenhum em sentir tesão por transexuais. Pelo contrário! Mas, é primordial que esse desejo venha acompanhado de respeito.